Eu olhava as pessoas passando ao meu redor. Eu as observava de longe. Toda aquela felicidade que parecia se esvair de mim aos poucos. Era como se o tempo drenasse cada partícula de alegria do meu corpo. E no fim, tudo que sobrava era solidão.
Ainda que por fora, eu ainda fosse só sorrisos. Sorriso, delicadeza e boa educação. Com meu discurso ensaiado de “Estou bem, obrigada. E você?”.
Quando por dentro, eu estava sozinho. E oco. E dolorido.
Eu estivera sentado por tempo demais, fitando essa maldita janela. Os meus braços enroscam-se ao redor dos meus joelhos e os mantêm colados ao meu peito. E eu posso apoiar minha cabeça neles.
Sozinho.
Eu era o cara, o cara com um sorriso agradável, que suportava as dores no meio do caminho.
Por que no final, eu era vazio por dentro. Era oco. Era frio e escuro. E eu mantinha as pessoas afastadas do meu interior. Elas não gostariam de ver, de qualquer forma.
Então eu ficava sozinho.
Sorrindo debilmente pra qualquer sombra que passassem em frente aos meus olhos.
Sozinho.
Eu era assim. Eu não mudaria.
E a pior coisa, pra mim, era deixar que alguém visse uma parte do meu interior.
Então por trás daquela máscara de sorrisos perfeitos, eu era apenas mais um cara. Eu apenas existia. Eu apenas continuava acordando, dia após dia, sem ter realmente um motivo pra fazê-lo.
O meu coração continuava batendo, uma vez após a outra, bombeando sangue pra todo o meu corpo. E eu não via motivos sérios para que ele o fizesse.
Sinceramente, se ele simplesmente parasse, estaria tudo bem. Eu não me importaria.
Seria como quebrar o ciclo.
Essa monotonia.
Essa rotina esmagadora.
E isso era aterrorizante.
E ao mesmo tempo, era tranquilizador.
Eu podia ser apenas eu, e deixar que aquele sentimento ruim rolasse por meu rosto em forma de lágrimas.
E ali estavam elas.
Salgadas.
Morrendo em meus lábios como leves beijos de morte. Dolorosas.
Parecia um buraco negro que sugava toda a minha felicidade e esperança.
Eu não queria que mais ninguém visse o quanto eu era vazio, frio e feio por dentro.
Eu era mesmo muito idiota... Há tempos não estava conseguindo me manter escondido
atrás daquela máscara de complascência e boa educação. Eu sentia ruir, dia após dia,
e me obrigava a me afastar de todos a quem eu queria bem.
Naquela noite, fantasmas do passado me perseguiram e impediram meu sono. Eu me vi preso numa procissão de segundos embalada pelo constante tiquetaquear do relógio.
Mãos frias de memórias antigas puxavam os meus pés. E eu não pude fugir.
E assisti, atordoado, enquanto antigas imagens dominavam a minha mente.
Quando o sol nasceu no horizonte, eu era um monte de cobertas sobre a cama,